NO CONVITE LANÇADO A SEIS CANDIDATOS, APENAS DOMINGOS SIMÕES PEREIRA APARECEU. NA ENTREVISTA QUE DEU A IMPRENSA, SECO DUARTE NHAGA DISSE QUE, OS OUTROS NÃO APARECERAM, PORQUE NÃO TÊM PROJECTOS.
Entrevista a DW
Guiné-Bissau: "Maioria dos candidatos sem manifestos e com discursos paupérrimos"
Rede de jovens considera que o nível de alguns candidatos às presidenciais na Guiné-Bissau deixa muito a desejar. E critica apelos ao voto étnico-religioso e discursos "paupérrimos".
A Guiné-Bissau entra na derradeira semana da campanha eleitoral rumo às presidenciais de domingo, 24 de novembro. A campanha eleitoral termina na sexta-feira (22.11) sem que os eleitores tenham conhecido o manifesto da maioria dos candidatos, segundo as organizações juvenis do país.
Os jovens acusam alguns candidatos presidenciais de proferirem discursos "paupérrimos", que apelam ao voto étnico-religioso, sem no entanto citar os nomes desses candidatos.
À DW África, os jovens guineenses alegam que a maioria dos candidatos às eleições presidenciais do próximo domingo não tem manifesto eleitoral e que muitos confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios.
Maioria dos candidatos sem manifesto
Para os jovens, esta está a ser uma campanha eleitoral com discursos antigos, acusações infundadas, ataques pessoais, apelos à retaliação e insultos. Por isso, as oito maiores organizações de jovens da Guiné-Bissau convocaram os doze candidatos presidenciais para um debate cara-a-cara, para discutir com a juventude o futuro da nação guineense.
"Essas organizações compreenderam que as eleições presidenciais de 24 são cruciais para o país. Talvez sejam as mais determinantes na vida do país, tendo em conta os cenários que se desenham. Serão umas eleições que vão determinar que Guiné-Bissau teremos nos próximos tempos", disse Seco Duarte Nhaga, líder da Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ) e um dos mentores do debate de dois dias.
DSP, o único presente
Na primeira sessão, esta segunda-feira (18.11), em que se previa um debate entre seis dos doze candidatos à Presidência, só compareceu o candidato suportado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau (PAIGC), Domingos Simões Pereira,
"Reconheço que, infelizmente, os candidatos não se limitam a não estar presentes, também não nos apresentam ideias concretas sobre aquilo que pensam que vão desenvolver enquanto primeiro magistrado da nação", disse o antigo primeiro-ministro e líder do PAIGC ao abrir o debate, que decorreu no salão polivalente de um centro de formação em Bissau.
Organizaram o evento o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), a Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ), o Fórum Nacional da Juventude e População (FNJP), a Rede das Associações Juvenis (RAJ), o Projeto Universidade Aberta (PUA), Rede Nacional das Jovens Mulheres Líderes (RENAJELF), a Confederação Nacional das Associações Estudantis (CONAEGUIB) e o Fórum Nacional de Inserção para Formação Extra-Escolar e Profissional (FONAIFEP).
"Candidatos com discursos paupérrimos"
A quatro dias do fim da campanha eleitoral, o jovem Duarte Nhaga, porta-voz do grupo, manifesta-se dececionado com o conteúdo dos discursos da maioria dos candidatos.
"Pena que não termos a oportunidade de conhecer todos os manifestos, porque não se sabe se todos os candidatos dispõem do manifesto", afirma em entrevista telefónica a partir de Bissau. "Os discursos a que estamos a assistir não nos dão esperança de que esses candidatos poderão garantir um futuro com esperança para o povo guineense. Estamos a assistir a discursos com bases étnico-religiosas que acabam por minar a esperança do povo guineense”,
Essa ausência de manifesto eleitoral por parte da maioria dos candidatos leva os jovens a desconfiar se esses concorrentes estão mesmo preparados para assumir a Presidência da Guiné-Bissau nos próximos cinco anos.
"O nível dos nossos políticos deixa muito a desejar. Em vez de proferirem discursos e terem projetos políticos capazes de dar alento e esperança ao povo guineense, fundamentados em visão futura, estamos a assistir discursos paupérrimos. O povo esperava ouvir discursos de unidade nacional, de esperança, de um futuro melhor", afirma Duarte Nhaga.
Código de conduta eleitoral
Entretanto, as organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau, agrupadas na Célula de Monitorização Eleitoral, já colocaram no terreno 422 observadores nacionais para monitorizar focos de violência, apelar à participação feminina nas eleições e evitar a incitação ao voto étnico e religioso. A Célula fez com que os doze candidatos assinassem um código de ética e conduta eleitoral.
"Os candidatos comprometeram-se a aceitar o veredito das urnas e, em caso de contestação dos resultados, será feita de acordo com a lei. E dizem que se o caso chegar ao Supremo Tribunal de Justiça, qualquer que for a sua decisão irão acatar", diz à DW Erikson Mendonça, secretário permanente da Célula.
No decurso da campanha eleitoral, o grupo tem constatado que alguns candidatos continuam a proferir discursos a pedir o voto de uma determinada religião ou etnia, o que constitui uma preocupação para a sociedade civil.
"O código que assinaram acautelou para não proferirem discursos que podem incitar à violência ou apelar ao voto baseado nas questões étnicas e religiosas. Mas temos seguido na campanha com alguma preocupação alguns candidatos a fazerem esses discursos. A Célula tem reunido com esses candidatos em privado", afirma Mendonça à DW África.
Observadores da CPLP em Bissau
A Bissau começaram a chegar as missões de observação eleitoral. A missão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), constituída por 23 membros, já está no terreno para acompanhar o encerramento da campanha eleitoral, o dia da eleição e o apuramento parcial de resultados, prevendo-se a permanência na capital Bissau e o desdobramento em equipas enviadas para outras regiões.
Antes de 24 de novembro, a missão de observação eleitoral da CPLP, chefiada por Oldemiro Balói, ex-Ministros dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, deverá encontrar-se com as autoridades guineenses, com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), com os representantes diplomáticos dos Estados-membros da organização neste país e com outras missões internacionais de observação eleitoral.