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Registar-se, nos últimos dias, manifestações de indignação provenientes de diferentes sectores da sociedade, em virtude da suposta entrega de viaturas a alguns líderes sindicais no país.
A ser verdade, tal facto merece uma incondicional condenação, seja qual for a motivação que levou o presidente a doar as viaturas e os supostos beneficiários a recebê-las pois, do ponto de vista ético e moral, para não falar das eventuais implicações legais, gestos deste género coloca em causa a credibilidade de qualquer instituição, ferindo gravemente a idoneidade de sua intervenção.
Daí que, acho pertinente a interpelação aos supostos beneficiários por parte da polícia judiciária, com vista ao esclarecimento do sucedido. O que não compreendo é a prisão destes que, a confirmar, acho desproporcional, na medida em que num Estado de Direito Democrático, tal medida configura o último recurso porque estamos a falar da privação de um direito humano fundamental - a liberdade.
Não dá para não fazer um paralelismo entre esta suposta prisão com os eventos recentes envolvendo as autoridades nacionais, os sindicatos e as organizações juvenis. As declarações registadas por parte destas entidades causa preocupação sobre o desfecho das coisas e logo se deu a audição (não sei se foi agendada antes) e, acto seguido, a prisão de 4? líderes sindicais!
Tudo relativamente bem até aqui, sem querer julgar o posicionamento de nenhuma das entidades envolvidas. Contudo, não deixa de causar estranheza o facto das organizações juvenis que se ofereceram para "mediar" a situação se colocaram em posição de juízes, tomando claramente parte numa situação que exigia e exige neutralidade total e um grau elevado de paciência, devido a sensibilidade do assunto!
A questão que se coloca é: que tipo de sociedade temos ou estamos a construir?
Registou-se a entrega de 91? Viaturas aos deputados da nação, viaturas essas doadas pelo Reino de Marrocos e pergunto:
Não tem este facto nada de suspeito que motive a intervenção das entidades de investigação criminal para apurar as circunstâncias de tamanho gesto?
Não seria de suspeitar que tal oferta pode condicionar as decisões dos deputados quando é o interesse de quem oferece que está em jogo?
É ético e moral, para não dizer legal, solicitar favores pessoais, utilizando um cargo público para o efeito?
Qual é a diferença entre a doação de 3/4 viaturas aos líderes sindicais e 91? aos deputados?
Somos um país de iguais?
Já tinha publicado a minha perplexidade sobre a tamanha "surpresa" com que alguns actores nacionais receberam as informações acerca da doação de viaturas aos líderes sindicais pelo Presidente da República, como se tal fosse a primeira vez a ter acontecido! 
Porque razão a própria sociedade fecha os olhos a alguns factos e os abre aos outros? É porque são "pobres" que não merecem a oferta, ou é porque estão a assumir funções de responsabilidade que não podem utilizar em benefício próprio? O que dizer de dirigentes de centrais sindicais que além de serem doados viaturas, ocupam cargos nos conselhos de administração das instituições públicas?
Se quisermos construir um país de iguais, baseado na igualdade de oportunidades e na razoabilidade de nossas concepções filosóficas, religiosas e morais, então estamos no mau caminho.

Nhaga Cobna