O recenseamento eleitoral na Guiné-Bissau termina hoje em polémica com trocas de acusações entre as várias entidades envolvidas no processo e quando o Ministério Público realiza uma investigação por alegadas irregularidades.
O processo de registo de eleitores guineenses para as eleições legislativas, que deveriam ter ocorrido a 18 de novembro, teve início em setembro, com um mês de atraso, devido a dificuldades técnicas e financeiras e desde o seu início que foi polémico.
Já este mês um grupo de partidos políticos, entre os quais se encontra o Partido de Renovação Social (segunda maior força política do país e que faz parte do atual do Governo) apresentou uma queixa no Ministério Público por alegadas irregularidades, que estão a ser investigadas.
Guiné-Bissau: "Declarar o fim do recenseamento trará grandes problemas ao país", alerta MADEM
MADEM-G15 ameaça pôr na rua centenas de guineenses para mostrar que uma boa parte não foi recenseada e avisa que se o Governo anunciar o fim do processo irá criar mais alguns problemas no país.
Chega ao fim nesta quarta-feira (18.12) um dos processos de recenseamento eleitoral mais polémicos da história da Guiné-Bissau. Contestado desde o início, em setembro do corrente ano, o processo de recenseamento até chegou a ser interrompido pelo Ministério Público por alegadas irregularidades denunciadas por um grupo de partidos políticos que insistia na nulidade do mesmo e na demissão da ministra de Administração Territorial, Ester Fernandes, que coordena o departamento que se ocupa do recenseamento na Guiné-Bissau.
"Nós temos a consciência de que temos defendido a verdade e que o primeiro-ministro e a ministra da Administração Territorial estão a empurrar o país para uma situação complicada. O recenseamento eleitoral não tem condições de terminar na quarta-feira (19.12.). Pelo que sabemos muita gente ainda está por recensear e muitos dos que já se encontram recenseados foram mal recenseados. Há cartões com dupla identidade, tripla identidade, muitas irregularidades que nos indicam que estamos perante uma gigantesca tentativa de fraude eleitoral”, disse Baldé.
95 % dos potenciais eleitores registados
Segundo os dados do Governo avançados na segunda-feira (17.12.) à imprensa pelo primeiro-ministro, Aristides Gomes, o recenseamento atingiu 95% dos 900 mil potenciais eleitores previstos. No entender do partido formado essencialmente por militantes dissidentes do PAIGC, os recenseados não chegam a metade dos números que o Governo tem anunciado. MADEM alega que as máquinas estão a duplicar os dados e questiona como é que são divulgados números sem que se tenha feito a sincronização dos mesmos.
"Estamos numa situação gravíssima que o MADEM-G15 não vai deixar passar. Terminar na quarta-feira o recenseamento vai trazer grandes problemas para o país, porque vão sair para as ruas todos aqueles que não foram recenseados. Nós vamos apelar aos nossos militantes e ao povo para saírem à rua e mostrar que não foram recenseados e estão descontentes com a atual situação”.
MADEM pede auditoria independente
O partido recentemente fundando em Bissau, já não pede a nulidade do processo mas exige que seja feita uma auditoria independente ao processo de recenseamento e que sejam corrigidos todos os erros detetados, tudo isto sob fiscalização do Ministério Público, e com a presença dos representantes informáticos de todos os partidos políticos.
Entretanto, para o analista político guineense, Luís Petit, não é surpresa que haja contestações ao processo, tento em conta o nível da desconfiança política que tem reinado na Guiné-Bissau durante a atual legislatura. E lembra que a lei guineense é muita clara nesta matéria:
"Desde que o recenseamento atingisse o número superior ao recenseamento precedente aí já existem condições para o processo de votação decorrer normalmente. Se realmente foram atingidos 95% dos potenciais eleitores é um dado importante e isso vai permitir a participação de grande maioria dos guineenses no processo” explica o analista.